Incêndio no Ninho do Urubu: Não foi acidente, mas um crime motivado pela ambição

Hoje foi um dia bastante triste para o Brasil, não apenas para o segmento esportivo - como vi muitos dizendo. Não foram apenas dez adolescentes que perderam a vida. Morreram também os sonhos de dez adolescentes que haviam deixado suas casas, a proximidade com família e amigos para se dedicar a realização de um sonho. Praticamente dez crianças que estavam em busca de dias melhores para as famílias e pra si através do esporte.



Não vejo o incêndio no Ninho do Urubu como um acidente. Da mesma maneira que eu não vejo a queda do avião do argentino Emiliano Sala, ocorrida há alguns dias, como um acidente. Vejo como crimes motivados pela busca incessante de lucro de clubes e de empresários. Todos sabemos que estes meninos não eram vistos pelo clube ou pelos detentores dos passes como pessoas. Eram vistos como promissores produtos, que poderiam render um montante de lucro em pouco tempo. O mesmo ocorreu com Sala que embarcava para uma nova história em um novo time. 

Se engana quem pensa que apenas no futebol é assim. Não mesmo. No mercado musical centenas de novos talentos tem assinado contratos abusivos, onde chegam a passar necessidade longe de casa, por acreditar ser aquela a única oportunidade para a realização do seu grande sonho. Sonho que, na maior parte dessas situações, acaba por não se realizar.  

Como jogadores, muito cantores arriscam a vida em aviões sem segurança, viagens contra o tempo nas rodovias, ônibus sem qualidade e conforto para aguentar tantos quilômetros. Motivados por que? Pela ganância dos empresários em reaver o investimento inicial na carreira dos artistas ou em busca do lucro incessante.

O talento dos jogadores e dos cantores tira deles a humanidade, aos olhos de empresários, clubes e escritórios, e os transforma em máquinas que tudo devem suportar, fazer e atender. Os limites do bem estar físico e psíquico por poucas vezes são lembrados, levando atletas e artistas ao desgaste absoluto. Isso é muito triste, mas é a realidade. 

Sobre os meninos do Flamengo, peço a Deus que dê sabedoria, força e resistência às famílias neste momento muito difícil. Torço bastante para que a morte deles não seja em vão e abra uma nova era nas escolinhas e alojamentos de atletas no Brasil. Torço para que se inicie um novo tempo de fiscalização, no qual o bem estar desses atletas seja levado em consideração. 

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